Cotidiano
Chico Buarque
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
Na música, existem vários elementos sufocantes, como os beijos de vários sabores que marcam os diferentes momentos do dia assim como, pelo menos na minha opinião, seu ritmo, que tira o fôlego. Faça o teste. Tente acompanhar esta música e depois me conte a experiência.
É super interessante a medida que cantamos vamos perdendo ar, porque ela é muito rápida e continua nos momentos que deveriam haver pausas.
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.
Ontem trabalhei com a música Cotidiano, do Chico Buarque. Sempre me emociono com a perfeição e a delicadeza desta música e por fim minha aula de português se torna uma discussão sobre hábitos, costumes e principalmente sobre o amor.
Meus alunos começam tímidos, querendo saber o significado das palavras, mas a partir do momento em que vão se familiarizando com música percebem aspectos que estão presentes também em suas vidas.
Gosto de interpretar músicas a partir de minha experência de vida e lembro de um grande amigo, que é artista plástico e que dizia: "...a arte é o que entendemos dela. Ela só vai nos chamar a atenção a partir do momento em que nos tocar de alguma forma, quando nos provocar diferentes sensações que não devem ser necessariamente agradáveis". Neste caso sim é muito agradável, porque quase sempre surge um sentimento de identificação e reconhecimento de uma pessoa querida.
O amor incondicional desta mulher nos toca e também sufoca e ninguém assume que algum dia já fez alguma destas coisas, mas na verdade todos nós carregamos um ou outro dos seus rasgos. Como se esta mulher fosse a personificação do amor, da dedicação das nossas mães, avós, de algum namorado ou namorada que nos perseguia em nossa adolescência. Enfim, também de alguma forma é bom saber que somos amados incondicionalmente. Somente não assumimos tal sentimento.
A dramaticidade desta música chama muito a atenção e é simpático como ele descreve seu cotidiano como monótono, massacrante mas também como inevitável, com o qual devemos aprender a lidar.
Na música, existem vários elementos sufocantes, como os beijos de vários sabores que marcam os diferentes momentos do dia assim como, pelo menos na minha opinião, seu ritmo, que tira o fôlego. Faça o teste. Tente acompanhar esta música e depois me conte a experiência.
É super interessante a medida que cantamos vamos perdendo ar, porque ela é muito rápida e continua nos momentos que deveriam haver pausas.
Gosto muito desta música principalmente porque me ajuda a pensar em várias coisas do cotidiano e mostra-me que não adianta querer lutar com o massacrante dia a dia, devemos aprender a viver da melhor forma possível e dar valor nas pequenas coisas, valorizando a pessoa que está ao nosso lado e tentando entender sua maneira de ser e seu amor.
Cada um ama de uma maneira diferente.
POSTADO POR BELTRANA EGO
A-MO esta canção do Chico. E sinto esse mesmo sufoco que você descreveu. Eu o vejo principalmente na passagem do tempo: como o dia é longo, muito longo, muito abarrotado; mas a noite, a noite não! A noite passa como que num piscar de olhos e o eterno retorno dá o tom do drama que se desenrola cotidianamente: todo dia, todo dia ela faz tudo sempre igual, tudo... sempre... igual...
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